sábado, 28 de novembro de 2009

Olha o Guarda-soleiro!!!


Hoje de manhã dei com o meu guarda-chuva avariado. E lembrei-me do tempo dos guarda-soleiros. Recordei a chegada do tempo das chuvas, dos invernos escuros, frios e bem molhados. Veio-me à memória a música da “flauta de pan” do senhor António Guarda-soleiro.

O senhor António Guarda-soleiro (pois claro, com letra maiúscula porque era uma profissão como tantas outras, com utilidade, muita utilidade e dignidade) chegava ao centro da freguesia com a sua oficina ambulante montada numa única roda gigante. Tudo fazia em cima daquela roda e tudo reparava. Amolavam-se facas e tesouras e reparavam-se guarda-chuvas. Nos intervalos de coser um pano ou de endireitar uma vara do guarda-chuva dava mais uma flautada para avisar a clientela que ainda não se tinha ido embora.

Costureiro de grande habilidade e mecânico ágil – apesar do volume que ocupava – o senhor António tudo sabia fazer, de preferência se acompanhado de um bom mata-bicho. Já quanto à música não se pode avaliar a sua formação muito avançada porque percorria a escala da flauta do princípio ao fim e do fim ao princípio. Questão de não alterar a melodia universalmente conhecida como da gaita dos amola-tesouras ou guarda-soleiros.

Um inverno o senhor António Guarda-soleiro não apareceu e nunca mais se repararam guarda-chuvas e as facas e tesouras perderam o fio.

E não tenho fotografias dos guarda-soleiros...  Ou seja, não tinha, mas agora já tenho!!!

Depois de muito procurar e com alguma sorte lá apareceu o amola-tesouras, guarda-soleiro. Não é o senhor António. Provavelmente é de etnia cigana, mas não deixa de ser o guarda-soleiro. E tocava a mesma música que o senhor António tocava há mais de 40 anos. Ele há tradições fortes como nem sei o quê!!!

2 comentários:

  1. Achei bem interessante o teu texto. Porém eu costumava chamar ao homem que compunha os guarda-chuvas "amolador" porque também amolava facas, certo'

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  2. É a primeira vez que oiço falar de guarda-soleiro. Eu costumava chamá-los de amola-tesouras porque amolavam tesouras e facas e, em princípio, tudo o que tivesse aresta de corte (não era assim?), embora consertassem também guarda-chuvas ou guarda-sóis (cá está).

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